sexta-feira, 17 de setembro de 2010

SER-VÍCIO (Ricardo Costa Salvalaio)

SER-VÍCIO

Todo dia saio pra trabalhar
Passo pelas ruas sem notar o sol, apesar de suar
Noto a saia da abundante mulher
Só noto a saia, não noto a mulher
Noto as notas do meu notório salário

Era melhor ficar em casa ouvindo Beatles ou The Who
Não há sintonia com o natural
E a cada dia me sinto mais introspectivo e superficial

Antes ouvia a voz dos ventos
Não ligava pro conteúdo do convencional
Agora sou parte dum mundo grupal
Corro, corro, corro pra ser um marechal

Uma vereda enche o sertão, um peixe enche o mar
Antes de tentar ver o todo, deveria tentar ver em parte
Tudo está dentro de mim: natureza, destruição,
Guerra, paz, amor, traição

Não há necessidade de uso imediato
Nada mais precisa ser inventado
Nem sempre se extrai algo do que é atribuído de significado
Há muitos nomes e jogos de máscaras por todo o lado

Eu não tenho vontade de metrificar sentimentos
E nem sei se alguém quer ouvi-los
Minha vida é um circo
Sou um palhaço e domo um leão por dia

Estou cansado de ouvir, falar, pensar, sentir
Qual é o sentido de existir?
Não quero ser informado, ler no papel
Vou inventar o antitelejornal igual ao Samuel

Estou cansado de amar, odiar, entender, querer
Eu só quero ser
Eu não quero um ser-vício!



(Ricarto Costa Salvalaio) 






Ricardo Costa Salvalaio. Nasceu em Vitória - ES no ano de 1986. Aos 14 anos começa a escrever seus primeiros versos. Em 2001, Salvalaio teve seu primeiro trabalho publicado. O poema 500 anos de opressão é o primeiro do livro Poetas do amanhã, lançado pela Prefeitura de Vitória. Em 2006, publicou o livro de poemas O óbvio complexo, que teve apoio da Lei Rubem Braga. Sempre ligado a cultura capixaba, organiza, em 2008, a coletânea de poemas Oito vezes poeta, que teve como objetivo apresentar ao público obras de autores que não tinham ajuda cultural dos seus respectivos municípios. Formando do curso de Letras – Português da UFES, o autor atualmente trabalha no projeto Biblioteca Transcol, que visa ampliar o acesso à literatura. Em 2010, toma posse na Academia de Letras Humberto de Campos e se dedica a prestar o mestrado em literatura pela UFES.

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